segunda-feira, outubro 24, 2005

Por mais que tentemos fugir do que somos, tenderemos sempre e irrefutavelmente a ser quem somos.

A Tela

Agora que comecei é quase impossível parar. O gelo que estava dentro de mim e que congelava as palavras e me impedia de escrever, finalmente foi quebrado. Agoro já sei escrever outra vez.
Apetece-me falar sobre o vazio.
Sobre o vazio da futilidade que vejo à minha volta. A futilidade que sempre vi, mas que agora vejo duma maneira diferente... agora vejo-a realçada e cada vez mais desprovida de sentido.
Se sei que são as pequeninas coisas que dão significado à vida, também sei que são pequeninas coisas como estas, que a tiram.
A vida não precisa de ter significado, tal como não precisa de haver uma razão para chorar de dor ou de cantar de alegria. Perguntar qual o significado da vida agora, é o mesmo que perguntar porquê chorar de dor em vez de cantar de dor. Não faz sentido.
Apetece-me pegar numa tela e pintar o mundo todo de novo.
Cheio de amarelos e vermelhos e azul do mar.
E depois punha o sol a brilhar e um coelhinho e brincar nas nuvens.
Cá em baixo punha beijinhos.
Muitos beijinhos espalhados pela relva.
Depois pintava de música as árvores e punha um bocadinho de açucar nas nuvens.
Branquinhas sem chuva.
Em cima das nuvens metia vaquinhas e na relva metia pássaros.
Depois no mar metia uma casa e no campo metia um barco.
A seguir metia-te como menina e a mim como menino.
E depois iamos os dois de mãos dadas de barco pelo campo até á casinha no mar e viviamos felizes para sempre.